Um segredo guardado há quatro anos foi finalmente revelado na manhã do dia 1º de dezembro de 2011, para o espanto dos jornalistas presentes a uma entrevista coletiva convocada pela TV Globo em um hotel de Copacabana, no Rio de Janeiro: Fátima Bernardes ia deixar o Jornal Nacional depois de quase 14 anos na bancada. Ao lado dos diretores de jornalismo e do marido William Bonner, ela anunciou que teria seu próprio programa, cujo formato vinha discutindo com a direção da emissora desde 2009. Mas, apesar da insistência dos jornalistas, não disse qual seria esse formato.
O mistério só foi desvendado dias antes da estreia do programa, em junho de 2012: Encontro com Fátima Bernardes, o novo programa, conta com espaço para comportamento, prestação de serviço, informação, música e entretenimento. Como o nome já diz, trata-se de um encontro, com a participação do público nas ruas, em casa e na plateia. Fátima abre, assim, um novo caminho para sua carreira, após fechar um ciclo vitorioso no telejornalismo brasileiro.
Filha de uma família modesta, com o pai militar e a mãe dona de casa, Fátima Gomes Bernardes Bonemer nasceu em 17 de novembro de 1962 em Vaz Lobo e passou a infância e adolescência no Méier, ambos bairros da zona norte do Rio de Janeiro. Seu sonho era ser bailarina e para isso estudou por 17anos. Começou aos 7, e foi bailarina profissional até os 21 anos.
Participou de muitos clipes, o primeiro para a música Pro Dia Nascer Feliz, do Barão Vermelho, com Cazuza. Depois, vieram Diana Pequeno, Marcos Sabino, João Penca & Seus Miquinhos Amestrados, Júlio Iglesias, entre muitos outros, vários deles produzidos para o Fantástico. Chegou a fazer parte do corpo de baile da TV Globo, cobrindo férias, e recebeu uma proposta de contrato, que recusou. Enquanto isso, estudava jornalismo na Escola de Comunicação da UFRJ.
Quando já estava quase se formando, viu que precisava dedicar-se realmente ao jornalismo, pois já havia se desencantado com a dança como profissão. “Sou um pessoa muito exigente comigo mesma, não queria ser só uma bailarina. Eu queria ser a primeira bailarina do Theatro Municipal. Se não fosse chegar lá, não era o que eu queria. Então, desisti.” Mesmo assim, continuou a dar aulas para se manter.
Em setembro de 1983, no último período da faculdade, a diretora da escola onde ensaiava pediu a Fátima para levar um grupo de alunas ao Projeto Aquarius, patrocinado pelo jornal O Globo, justamente onde estava inscrita para fazer prova para estágio. Foi recebida por um jornalista, com quem conversou sobre o estágio. Era um domingo, e a prova seria no outro fim de semana. Na segunda-feira, ligaram do jornal para academia dizendo que haveria um torneio esportivo e que o repórter escalado para cobrir o evento quebrara a perna. Perguntaram se, em vez da prova para o estágio, Fátima topava cobrir o evento como freelancer. Se fosse aprovada, passaria a fazer matérias avulsas e a receber por isso. Assim, sua primeira matéria, assinada, saiu no Jornal de Bairros.
“Fiquei fazendo frilas no jornal de 1983 até 1985”, conta. “Cobria todos os eventos ligados ao departamento de promoções. Quer dizer, ainda não era bem jornalismo, porque você não vai criticar um evento promovido pelo órgão em que está trabalhando.”
Em 1985, foi contratada para o Jornal de Bairros, embora seu sonho agora fosse ir para o “Globão”, como chamavam. Com isso, ganhou experiência e espaço no jornal, para o qual cobriu as eleições municipais e fez uma primeira página para oSegundo Caderno.
Um anúncio sobre um curso de telejornalismo na TV Globo chamou sua atenção em 1986. Nessa época, estava fazendo prova também para dubladora da Herbert Richers – “tudo que eu via, eu fazia” – e resolveu tentar o curso da Globo. Qual não foi sua surpresa quando soube que não era um curso, mas um concurso: 400 pessoas disputando 45 vagas. “Até então, eu jamais havia pensado em trabalhar em televisão, porque não sabia o que era televisão”, conta. Na faculdade, nunca tivera aula de telejornalismo e sequer fora apresentada a uma câmera. O concurso constava de cinco provas, e Fátima foi para a última. No dia em que saiu o resultado, seu nome estava na lista, mas com uma pendência – ela trabalhava para o jornal. Uma conversa com seu chefe resolveu a pendência a seu favor.
De férias no jornal, foi alocada pela TV Globo no Fantástico como estagiária. Caiu direto numa reunião de pauta, com os principais profissionais do programa, e disse para si mesma: “O que estou fazendo nesse barco?” Na última semana do estágio, ganhou uma pauta sobre solidariedade. Pensou: carona é solidariedade. Conseguiu um equipamento e foi para a Ilha do Fundão, onde fica a Universidade, pedir carona. A matéria passou pelo crivo das chefias, e Fátima foi encaminhada à editoria Rio para cobrir férias. O horário era das 19h a uma da manhã – dava para conciliar com o Jornal de Bairros.
Depois de três meses, recebeu uma proposta de contratação. Trocou o jornal pelo RJTV. Aos poucos, foi fazendo matérias para os outros telejornais, inclusive para Jornal Nacional, até ser escalada para substituir uma apresentadora do RJTV, que estava grávida. Tinha encontrado sua vocação.
O próximo desafio foi o Jornal da Globo, dividindo a bancada com um apresentador consagrado, em maio de 1989. Pouco tempo depois, o apresentador foi substituído por William Bonner, com quem Fátima viria a se casar e ter filhos. Os dois permaneceram juntos à frente do telejornal até 1993, quando Fátima foi para o Fantástico.
No Jornal da Globo, os apresentadores atuavam como âncoras: redigiam e editavam os textos das reportagens que eram levadas ao ar. Dois momentos foram marcantes nesse período para Fátima Bernardes: a Rio-92, conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente, e a Olimpíada de Barcelona, também em 1992, um ano muito especial para Fátima.
“Esse ano de 1992 é decisivo na minha carreira, e ele aconteceu depois de eu ter cortado o cabelo”, garante. “A minha vida na Globo deu uma guinada, é como se eu tivesse encontrado um perfil para mim. Eu sentia que meu nome ainda não estava na cabeça das pessoas. Quando cortei o cabelo, meu rosto ficou mais à mostra, as pessoas decoraram melhor a minha imagem, o meu nome. Eu era a única apresentadora de cabelo curto. Foi uma coisa impressionante como aquilo me deu uma marca”. Coincidência ou não, ela foi chamada para a campanha da virada de 1991 para 1992 da emissora. Era o “Tente, invente, faça um 92 diferente” e Fátima pôde fazer o que nunca deixou de amar: aparecer sapateando. “Voltei a fazer aula, tudo foi se juntando.”
Na Rio-92, Fátima Bernardes entrava ao vivo direto do Aterro do Flamengo, dentro do Jornal Nacional e fazia matérias para o Jornal da Globo. Na Olimpíada, ela que nunca fizera matérias de esporte, além de pé quente, por ter feito matéria sobre as três medalhas que o Brasil ganhou naquele dia, foi protagonista de um acontecimento único: uma falha no placar eletrônico, que quase tira a medalha de prata do nadador brasileiro Gustavo Borges, inicialmente dado como oitavo colocado. “Nessa hora, nós fizemos uma imagem dele do alto, na piscina, num cantinho, abaixado chorando”, conta Fátima.
“De repente, eu vejo o presidente da Confederação de Natação vir correndo. Corro na direção dele, e nós corremos juntos, com ele gritando ‘Você é prata! Você é prata!’. O câmera fecha no Gustavo Borges, que olha e não acredita”. O resultado foi para o ar numa matéria memorável que fez o Brasil inteiro chorar.
Ainda em 1992, de férias na Disney, foi localizada pela sucursal de Nova York para cobrir a passagem do furacão Andrew em Miami, enviando reportagem exclusiva para o Brasil.
No Fantástico, além da apresentação, acumulava a tarefa de produzir matérias especiais e reportagens de rua. “Foi um período de delírio. Aconteceu de tudo: eu me vestia de japonesa, de noiva, de gorda, e ia para o meio da rua com aquelas fantasias; a gente aprontou o que pôde e o que não pôde”, conta Fátima. As pessoas passaram a vê-la como “A Fátima doFantástico”.
Deixou o programa em 1996, para assumir a função de apresentadora e editora-chefe do Jornal Hoje, que completava 25 anos no ar. Permaneceu no telejornal até abril de1997, quando voltou a apresentar o Fantástico. “Entrei num domingo e, no sábado seguinte, fiquei sabendo que estava grávida”. Ficou afastada da TV Globo até março de 1998, quando voltou ao trabalho, agora como apresentadora do Jornal Nacional, dividindo a bancada com William Bonner, numa parceria que duraria quase 14 anos.
Participou de muitos clipes, o primeiro para a música Pro Dia Nascer Feliz, do Barão Vermelho, com Cazuza. Depois, vieram Diana Pequeno, Marcos Sabino, João Penca & Seus Miquinhos Amestrados, Júlio Iglesias, entre muitos outros, vários deles produzidos para o Fantástico. Chegou a fazer parte do corpo de baile da TV Globo, cobrindo férias, e recebeu uma proposta de contrato, que recusou. Enquanto isso, estudava jornalismo na Escola de Comunicação da UFRJ.
Quando já estava quase se formando, viu que precisava dedicar-se realmente ao jornalismo, pois já havia se desencantado com a dança como profissão. “Sou um pessoa muito exigente comigo mesma, não queria ser só uma bailarina. Eu queria ser a primeira bailarina do Theatro Municipal. Se não fosse chegar lá, não era o que eu queria. Então, desisti.” Mesmo assim, continuou a dar aulas para se manter.
Em setembro de 1983, no último período da faculdade, a diretora da escola onde ensaiava pediu a Fátima para levar um grupo de alunas ao Projeto Aquarius, patrocinado pelo jornal O Globo, justamente onde estava inscrita para fazer prova para estágio. Foi recebida por um jornalista, com quem conversou sobre o estágio. Era um domingo, e a prova seria no outro fim de semana. Na segunda-feira, ligaram do jornal para academia dizendo que haveria um torneio esportivo e que o repórter escalado para cobrir o evento quebrara a perna. Perguntaram se, em vez da prova para o estágio, Fátima topava cobrir o evento como freelancer. Se fosse aprovada, passaria a fazer matérias avulsas e a receber por isso. Assim, sua primeira matéria, assinada, saiu no Jornal de Bairros.
“Fiquei fazendo frilas no jornal de 1983 até 1985”, conta. “Cobria todos os eventos ligados ao departamento de promoções. Quer dizer, ainda não era bem jornalismo, porque você não vai criticar um evento promovido pelo órgão em que está trabalhando.”
Em 1985, foi contratada para o Jornal de Bairros, embora seu sonho agora fosse ir para o “Globão”, como chamavam. Com isso, ganhou experiência e espaço no jornal, para o qual cobriu as eleições municipais e fez uma primeira página para oSegundo Caderno.
Um anúncio sobre um curso de telejornalismo na TV Globo chamou sua atenção em 1986. Nessa época, estava fazendo prova também para dubladora da Herbert Richers – “tudo que eu via, eu fazia” – e resolveu tentar o curso da Globo. Qual não foi sua surpresa quando soube que não era um curso, mas um concurso: 400 pessoas disputando 45 vagas. “Até então, eu jamais havia pensado em trabalhar em televisão, porque não sabia o que era televisão”, conta. Na faculdade, nunca tivera aula de telejornalismo e sequer fora apresentada a uma câmera. O concurso constava de cinco provas, e Fátima foi para a última. No dia em que saiu o resultado, seu nome estava na lista, mas com uma pendência – ela trabalhava para o jornal. Uma conversa com seu chefe resolveu a pendência a seu favor.
De férias no jornal, foi alocada pela TV Globo no Fantástico como estagiária. Caiu direto numa reunião de pauta, com os principais profissionais do programa, e disse para si mesma: “O que estou fazendo nesse barco?” Na última semana do estágio, ganhou uma pauta sobre solidariedade. Pensou: carona é solidariedade. Conseguiu um equipamento e foi para a Ilha do Fundão, onde fica a Universidade, pedir carona. A matéria passou pelo crivo das chefias, e Fátima foi encaminhada à editoria Rio para cobrir férias. O horário era das 19h a uma da manhã – dava para conciliar com o Jornal de Bairros.
Depois de três meses, recebeu uma proposta de contratação. Trocou o jornal pelo RJTV. Aos poucos, foi fazendo matérias para os outros telejornais, inclusive para Jornal Nacional, até ser escalada para substituir uma apresentadora do RJTV, que estava grávida. Tinha encontrado sua vocação.
O próximo desafio foi o Jornal da Globo, dividindo a bancada com um apresentador consagrado, em maio de 1989. Pouco tempo depois, o apresentador foi substituído por William Bonner, com quem Fátima viria a se casar e ter filhos. Os dois permaneceram juntos à frente do telejornal até 1993, quando Fátima foi para o Fantástico.
No Jornal da Globo, os apresentadores atuavam como âncoras: redigiam e editavam os textos das reportagens que eram levadas ao ar. Dois momentos foram marcantes nesse período para Fátima Bernardes: a Rio-92, conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente, e a Olimpíada de Barcelona, também em 1992, um ano muito especial para Fátima.
“Esse ano de 1992 é decisivo na minha carreira, e ele aconteceu depois de eu ter cortado o cabelo”, garante. “A minha vida na Globo deu uma guinada, é como se eu tivesse encontrado um perfil para mim. Eu sentia que meu nome ainda não estava na cabeça das pessoas. Quando cortei o cabelo, meu rosto ficou mais à mostra, as pessoas decoraram melhor a minha imagem, o meu nome. Eu era a única apresentadora de cabelo curto. Foi uma coisa impressionante como aquilo me deu uma marca”. Coincidência ou não, ela foi chamada para a campanha da virada de 1991 para 1992 da emissora. Era o “Tente, invente, faça um 92 diferente” e Fátima pôde fazer o que nunca deixou de amar: aparecer sapateando. “Voltei a fazer aula, tudo foi se juntando.”
Na Rio-92, Fátima Bernardes entrava ao vivo direto do Aterro do Flamengo, dentro do Jornal Nacional e fazia matérias para o Jornal da Globo. Na Olimpíada, ela que nunca fizera matérias de esporte, além de pé quente, por ter feito matéria sobre as três medalhas que o Brasil ganhou naquele dia, foi protagonista de um acontecimento único: uma falha no placar eletrônico, que quase tira a medalha de prata do nadador brasileiro Gustavo Borges, inicialmente dado como oitavo colocado. “Nessa hora, nós fizemos uma imagem dele do alto, na piscina, num cantinho, abaixado chorando”, conta Fátima.
“De repente, eu vejo o presidente da Confederação de Natação vir correndo. Corro na direção dele, e nós corremos juntos, com ele gritando ‘Você é prata! Você é prata!’. O câmera fecha no Gustavo Borges, que olha e não acredita”. O resultado foi para o ar numa matéria memorável que fez o Brasil inteiro chorar.
Ainda em 1992, de férias na Disney, foi localizada pela sucursal de Nova York para cobrir a passagem do furacão Andrew em Miami, enviando reportagem exclusiva para o Brasil.
No Fantástico, além da apresentação, acumulava a tarefa de produzir matérias especiais e reportagens de rua. “Foi um período de delírio. Aconteceu de tudo: eu me vestia de japonesa, de noiva, de gorda, e ia para o meio da rua com aquelas fantasias; a gente aprontou o que pôde e o que não pôde”, conta Fátima. As pessoas passaram a vê-la como “A Fátima doFantástico”.
Deixou o programa em 1996, para assumir a função de apresentadora e editora-chefe do Jornal Hoje, que completava 25 anos no ar. Permaneceu no telejornal até abril de1997, quando voltou a apresentar o Fantástico. “Entrei num domingo e, no sábado seguinte, fiquei sabendo que estava grávida”. Ficou afastada da TV Globo até março de 1998, quando voltou ao trabalho, agora como apresentadora do Jornal Nacional, dividindo a bancada com William Bonner, numa parceria que duraria quase 14 anos.
Fátima Bernardes cobriu, ainda, as Copas do Mundo de futebol de 1994; a do tetracampeonato, nos EUA; a de 1998, na França; e a de 2002, no Japão, quando o Brasil conquistou o penta e ela foi eleita a Musa da Copa, título dado pelos próprios jogadores brasileiros. Em 2006, voltou a cobrir uma Copa do Mundo, desta vez na Alemanha.
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